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Geógrafo pela Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC,Ilhéus/Itabuna; Urbanista pela Universidade do Estado da Bahia, UNEB, Campus Salvador; Especialista em Metodologia para o Ensino Superior, pela Fundação Visconde de Cayru; pós-graduando em Ecologia e Intervenções Ambientais pelo Centro Universitário Jorge Amado, UNIJORGE.

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Construção civil - o futuro do mercado imobiliário baiano

Entraves regionais

Restrições relacionadas à renda média da população e à cultura dos trabalhadores dificultam aumento da produtividade no mercado imobiliário baiano

DIVULGAÇÃO: SINDUSCON-BA
Carlos Alberto Matos Vieira Lima

Ainda que a crise europeia esteja durando mais que o previsto, o presidente do Sinduscon-BA (Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia) aposta que o mercado baiano não irá mais voltar ao patamar de apenas 2 mil imóveis lançados por ano. A aposta é que a demanda reprimida pela primeira moradia existente no Estado seja suficiente para manter as vendas em torno das 10 mil unidades anuais. É imperativo, no entanto, vencer desafios como a baixa industrialização e problemas referentes à mão de obra, não apenas de qualificação, mas também da baixa produtividade dos operários.

Outro aspecto cultural que atrapalha é a resistência a sistemas industrializados, como o drywall. Segundo Vieira Lima, mesmo os corretores imobiliários trabalham contra a disseminação de novos conceitos. Ele ataca também a reticência da Caixa Econômica Federal na aprovação de novas tecnologias, assim como a necessidade de revisão do programa Minha Casa, Minha Vida, pouco atrativo na faixa de zero a três salários. Além disso, na entrevista a seguir Vieira Lima também tece críticas à falta de indústrias no Estado, que leva à necessidade de importar materiais de outras regiões.

Qual a situação atual da construção civil na Bahia?

Houve muitos lançamentos e uma parte foi vendida, mas em 2011 o setor imobiliário deu uma parada. Afinal, ainda que haja muitas obras em andamento, uma coisa é subir prédios, vender é outra. O consumo de cimento e todos os indicadores mostram aquecimento. No setor imobiliário, porém, há a questão da crise, que deve demorar muito para se resolver.

Já é possível mensurar a dimensão dos impactos?

A paralisação de vendas no mercado imobiliário foi muito forte, os estandes estão praticamente parados. Isso vem ocorrendo nos últimos meses, portanto não é algo pontual, como imaginávamos. Começa a haver ajuste para novos lançamentos. O maior limitador é a péssima renda per capita existente na Bahia. Por isso, o mercado formado pela nova classe média tem um valor definido, com restrição de venda para empreendimentos acima de R$ 100 mil. Entre 2005 e 2007 falava-se em um mercado de pouco mais de 2 mil unidades por ano. Agora, estamos em um patamar de 10 mil. O mercado está fazendo ajustes, mas não voltará às 2 mil unidades.

O ritmo deve ser mantido nos próximos anos?

Vai continuar porque estávamos parados, sem financiamento, crédito. Ainda há possibilidade de crescimento, pois temos pouco comprometimento do PIB (Produto Interno Bruto) em relação ao financiamento de habitação. Não temos a preocupação do que poderia ser uma provável bolha, não se trata das questões que acometeram o mercado imobiliário dos Estados Unidos e Europa. Até porque se trata de compra de primeira moradia.

Essas moradias de até R$ 100 mil são populares, enquadradas no MCMV?

Podem ser, porque o MCMV vai até dez salários mínimos, sendo que de zero a três é todo subsidiado. Neste segmento, a Bahia foi o Estado que mais contratou, com mais de 70 mil unidades. Hoje, porém, na execução desses empreendimentos, devido ao fato de o governo ter congelado os valores por três anos, as empresas começam a ter dificuldades. Há necessi­dade de realinhar os preços.

E o Minha Casa 2?

O preço colocado pelo governo não mostrou atratividade. Então, em vez de haver contratação para superar a crise, na faixa de zero a três salários o programa está parado.

Como a Bahia enfrenta a questão da falta de mão de obra?

Há quase pleno emprego no setor. Enquanto o Brasil está com 6% de taxa de desemprego, o setor tem 2%. Quatro anos atrás, tínhamos 76 mil trabalhadores com carteira assinada. Hoje, estamos com 193 mil. A grande questão é a da qualificação.

Há trabalho setorial de qualificação?

O Sinduscon-BA e a CBIC (Câmara Brasileira de Indústria da Construção), junto com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), desenvolveram um projeto de qualificação de pessoal nos canteiros, usando tecnologia EAD (ensino à distância). O objetivo é treinar multiplicadores para levar o treinamento para dentro do canteiro.

Quais os principais entraves à produtividade na Bahia?

À medida que se caminha para os Estados do Norte e do Nordeste, como há menor nível educacional e menos gente qualificada, a situação piora. A questão da produtividade por falta de mão de obra qualificada é generalizada. A pessoa não produz, não tem educação para o trabalho, não está acostumada ao andamento produtivo, tem a cultura do não trabalho instalada.

O que é a cultura do não trabalho?

A pessoa não quer produzir, não gosta de trabalhar, para e vai embora por qualquer coisa. É preciso implementar uma nova forma de remuneração. Quando se dá condição ao pedreiro de produzir e ser remunerado por produtividade, alguns recebem R$ 4 mil, enquanto outros ganham R$ 1 mil. Ou seja, pode-se e deve-se pagar melhor na construção, mas isso tem que estar vinculado à produtividade. Esta é a equação: industrialização, inovação tecnológica, investimento em um processo de qualificação e inovação no processo de remuneração.

Então, além da produtividade dos operários, é preciso tratar dos processos?

Sim, temos que ser mais agressivos. O gesso acartonado, por exemplo, sofre preconceito muito grande. Daí, ele permanece em pequena escala e fica mais caro. O boca a boca é muito forte. Os corretores de imóveis, por exemplo, em vez de promoverem a modernização, às vezes propagam o atraso. Aí que entra a necessidade de informação. Em um projeto de inovação tecnológica, é preciso trabalhar as partes envolvidas.

Qual a situação do Estado em relação a equipamentos e sistemas construtivos?

Ainda estamos muito atrasados na industrialização, mas as pessoas começam a despertar. Na Bahia, praticamente tudo se compra fora, pois, apesar de termos matéria-prima para fabricar cerâmica, granito e mármore, pouca coisa é feita aqui. Isso aumenta o custo, porque são volumes muito grandes de transporte. É um problema estratégico.

Como se incentiva a vinda de fabricantes?

Isso faz parte de políticas públicas, e precisamos convencer o parceiro, o Estado. O Sinduscon-BA e a Fieb (Federação das Indústrias da Bahia) acabaram de concluir um estudo de política industrial, por encomenda do Governo do Estado, com foco na construção. Agora é preciso estabelecer medidas de implementação.Vamos lutar e pressionar para isso começar a funcionar este ano.

Ainda quanto à tecnologia, há indícios de industrialização?

O MCMV na Bahia foi praticamente todo desenvolvido com sistema tradicional, alvenaria estrutural. Poucos construíram com paredes de concreto. Há um processo de mecanização, mas são equipamentos grandes, com custo elevado. A Caixa tem que acelerar e promover a aprovação de novas tecnologias.
Fonte: PINIweb
 

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