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Geógrafo pela Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC,Ilhéus/Itabuna; Urbanista pela Universidade do Estado da Bahia, UNEB, Campus Salvador; Especialista em Metodologia para o Ensino Superior, pela Fundação Visconde de Cayru; pós-graduando em Ecologia e Intervenções Ambientais pelo Centro Universitário Jorge Amado, UNIJORGE.

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domingo, 29 de setembro de 2013

Sócio-economia: o potencial do semi-árido nordestino

Regiões secas viram produtivas em vários lugares do país e do mundo

E é exatamente no semiárido onde estão 61% dos 2,5 milhões de baianos que vivem em situação de extrema pobreza



Com cerca de 60% na região do semiárido, a Bahia concentra o maior contingente de inscritos no programa Bolsa Família do Brasil. Dados do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome indicam que o estado recebe o maior volume de recursos do programa: quase R$ 210 milhões para 1,75 milhão de famílias. E é exatamente no semiárido onde estão 61% dos 2,5 milhões de baianos que vivem em situação de extrema pobreza.
Para especialistas, apesar da seca, essa realidade poderia ser diferente: o semiárido tem condições de ser tornar uma região produtiva. “É fundamental ouvir quem está no campo e levar, ao agente produtor, bases e programas sólidos de educação, infraestrutura, tecnologia e fomento, aspectos que impactem a forma tradicional de produção”, afirma o vice-presidente da Federação da Indústria do Estado da Bahia (Fieb), Reinaldo Sampaio.
Na avaliação de Sampaio, existe um vazio de logística, inclusive nas cidades médias, que não contam com equipamentos condizentes com as necessidades. “Pode-se, por exemplo, desenvolver mecanismos para aproveitar a chuva que cai para alimentar os reservatórios naturais de água no subsolo do semiárido. Além de reorganizar as técnicas de produção e organizar os produtores em estrutura empresarial”, diz.
Para ele, só a formação de uma classe média rural, como já aconteceu em outros estados brasileiros, do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, promoverá uma mudança efetiva na realidade do semiárido.
A região do cerrado brasileiro, por exemplo, até meados do século passado era considerada uma espécie de prima pobre da agropecuária nacional. O dito popular “cerrado, nem comprado nem dado” refletia a realidade de vastas extensões de terra inférteis. “Havia, no máximo, pedaços do subsolo com alguma riqueza mineral. Foi preciso a fundação de Goiânia, entre 1940 e 1950, e a construção de Brasília, em seguida, para que situação começasse lentamente a mudar”, lembra  o vice-presidente da Fieb.
Além das novas cidades, a partir da segunda metade da década de 70, o governo intensificou o processo de ocupação dos cerrados, visando o  desenvolvimento do interior do país e a criação de nova fronteira agrícola na região. Assim, o cerrado, presente em estados como Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão e Mato Grosso do Sul, transformou-se na principal área produtora brasileira.
Outro bom exemplo é o de Israel. O país, que tem apenas 15% de seu território com terras em condições para agricultura, nos últimos 30 anos tem se destacado na boa gestão das águas. Graças à utilização de sistemas avançados de irrigação, garante o plantio de grandes áreas.
Bahia
Mas não precisamos ir tão longe encontrar experiências bem-sucedidas. Aqui no Brasil, no semiárido baiano/pernambucano, existe um polo de agricultura irrigada que abastece o país e vários países estrangeiros com frutas. Juazeiro e Petrolina são exemplos como o uso de tecnologia pode transformar o semiárido.
E é exatamente essa transformação da realidade que defende Reinaldo Sampaio. Para ele, a questão do semiárido prescinde de tudo que foi feito para subsistência e sobrevivência, sem estratégia de progresso sustentado. Para ele, esse progresso só virá por meio de planos de economia continuada.
Opinião compartilhada pelo  coordenador do Núcleo de Estudos e Ações Integradas do Semiárido, Aurélio Lacerda. 
“Trabalhamos com o paradigma da convivência com o semiárido. A seca é um fenômeno natural, não se pode combatê-la como pensávamos antigamente. O semiárido é viável social e economicamente, mas para que isso ocorra é preciso  ações adequadas para o manejo da caatinga, pecuária, agricultura e preservação”, disse Lacerda. Ele sugere o incentivo à agricultura familiar e geração de renda, através de assistência tecnológica, financeira e científica.
Incentivo  
O vice-presidente da Fieb defende a criação de fundos de desenvolvimento regionais para educação, ciência e tecnologia, infraestrutura e a promoção de uma governança compartilhada federal e dos governos locais. Reinaldo Sampaio cita a região da  Múrcia, na Espanha, onde chove metade do que é registrado no semiárido baiano e tem um solo paupérrimo.
“A Múrcia representa 2,2% do território da Espanha e é responsável por 10% da exportação de produtos agrícolas do país. Isso porque houve a cooperação de institutos de tecnologia, empresários e governo para transformar a região. Vontade política de desenvolvimento”, afirma.
No esforço de transformação do semiárido se destaca o trabalho da Embrapa. “Conviver com o semiárido é aprender a conviver com as grandes estiagens”, destaca o pesquisador Pedro Gama da Silva, da Embrapa Semiárido. Segundo ele, o Nordeste é uma região que detém grande diversidade agroecológica e socioeconômica.
Benefícios
Embora abrigue 56% da população brasileira, a participação da região no Produto Interno Bruto (PIB) do país é de apenas 13,6%. Ele destaca que as famílias que hoje são beneficiadas por políticas públicas e subvenções sociais vivem uma situação diferente do que era há algumas décadas. “Hoje, mesmo a crise de produção sendo maior que as anteriores, a crise social não ocorre mais como era”. 
Gomes ressalta que, além dos benefícios de transferência de renda, há tecnologias sociais eficientes para convivência com a seca, como o armazenamento de forragens; o aproveitamento das espécies da biodiversidade, como o umbu e maracujá-do- mato; o cultivo da palma forrageira; do sorgo e milho como reserva estratégica e culturas tolerantes ao déficit hídrico.
Há ainda tecnologias para o enfrentamento da seca em situações emergenciais, como a valorização da vegetação nativa, a prática de manejo da pastagem; o aproveitamento da água de poços, cacimbas e poços semiartesianos; e o aproveitamento da umidade dos fundos de vales e baixios. Para ele, é fundamental ensinar a todos as maneiras de mobilização que possam facilitar o enfrentamento e a convivência com a seca na região. 
Menor investimento em barragens e açudes
Para o coordenador do Núcleo de Estudos e Ações Integradas do Semiárido, Aurélio Lacerda, os maiores desafios dos sertões semiáridos do Brasil centram-se na questão das águas. “No Brasil, as águas são mal distribuídas: a região Nordeste, com 28% da população, tem apenas 3% das águas”, afirma. Isso se agrava nos períodos de maior estiagem, como nos últimos dois anos, quando  a Bahia vive uma das piores secas da história. 
Embora enfrente forte déficit hídrico, não há falta de água, pois o semiárido brasileiro é o mais chuvoso do mundo. O problema é que as chuvas são irregulares no tempo e no espaço, além de alto índice de evaporação. A área do semiárido brasileiro, o mais populoso do mundo, supera o território de Portugal, Espanha e Reino Unido, juntos. 

A Bahia foi o estado que menos investiu na construção de barragens e açudes, se comparado com regiões como o Ceará. Em períodos de grandes estiagens, os recursos hídricos não são suficientes para o abastecimento. “Daí a necessidade de sistemas complementares, como cisternas, a exploração das águas subterrâneas e a dessalinização”, destaca.
Governo aposta em acesso a água, tecnologia e financiamento
O grande desafio da região semiárida para o governo é, sem deixar de realizar ações emergenciais nos momentos de seca profunda, transformar a realidade da região, proporcionando acesso a água doce e condições de produção. Em parceria com o governo federal e empresas públicas, construiu os Sistemas Integrados de Abastecimento e Água e adutoras em mais de 40 municípios, beneficiando mais de 800 mil pessoas. 
Dentro do programa federal Água para Todos, o estado será beneficiado com cerca de R$ 17 milhões para a construção de 135 Sistemas Simplificados de Abastecimento de Água (SSAA) em 45 municípios do semiárido. Várias cidades da região também já foram beneficiadas com o recebimento de caminhões e máquinas para melhorar a produção e a vida do sertanejo. 
De acordo com  o secretário da Casa Civil, Rui Costa, que coordena o Comitê Estadual para Ações de Convivência com o Semiárido, a ação visa intensificar o desenvolvimento do semiárido. “Todas essas ações juntas vão melhorar a vida do homem e da mulher da zona rural. Desenvolver o semiárido é desenvolver a Bahia, fortalecendo a agricultura familiar e dando qualidade de vida à população”, afirmou. 
Na questão da produção, técnicos da Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri) trabalham para garantir a melhor convivência do sertanejo com as adversidades da região. Para garantir água para a produção - plantio e criação de animais - a Seagri estimula a construção de reservatórios e o uso de tecnologias que permitem represar água nos períodos de estiagem. Além disso, presta assistência técnica para que o plantio seja adequado e os animais sobrevivam nos períodos de seca. 

Os técnicos da secretaria também auxiliam os produtores na elaboração de projetos para garantir o acesso ao crédito disponível. O fortalecimento do tripé água, tecnologia e financiamento permite uma convivência cada vez melhor do sertanejo com a região. Outra medida que permite a permanência na região é o incentivo à agroindústria. O semiárido, segundo a Seagri, é rico em frutas regionais e a agroindústria permite o beneficiamento dessas frutas e a produção de derivados, agregando valor à fruta e garantindo uma melhoria de renda para o produtor. Além disso, por meio do Programa Vida Melhor, haverá a recomposição de rebanhos perdidos por conta da seca: 40 mil animais melhorados geneticamente serão doados. E a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola tem programa de distribuição de palma forrageira, com objetivo de garantir a alimentação do rebanho.
Fonte: Correio 24H

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