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Geógrafo pela Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC,Ilhéus/Itabuna; Urbanista pela Universidade do Estado da Bahia, UNEB, Campus Salvador; Especialista em Metodologia para o Ensino Superior, pela Fundação Visconde de Cayru; pós-graduando em Ecologia e Intervenções Ambientais pelo Centro Universitário Jorge Amado, UNIJORGE.

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Os rumos da economia baiana

A ECONOMIA DA BAHIA É MAIS DINÂMICA DO QUE AS OUTRAS DO NORDESTE”


O comportamento da economia baiana em 2011 e suas perspectivas em 2012 são o assunto principal desta entrevista exclusiva do secretário estadual da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, para o site Gente & Mercado. Ele explica as estratégias do Estado em meio à “guerra fiscal” e aponta a tendência de fortalecimento das cadeias produtivas, principalmente as de mineração (atualmente com R$ 15 bilhões em investimentos no Estado) e energia (com R$ 14,4 bilhões em investimentos), além da indústria automotiva, que mira agora uma fábrica de caminhões da gigante chinesa Dongfeng.
Correia critica duramente a gestão da Codeba e antecipa a chegada de investimentos importantes ainda no mês de janeiro à Bahia, a exemplo de duas fábricas de bebidas, que devem ser anunciadas pelo governador até a segunda semana deste mês e que, juntas, representarão um investimento na ordem de R$ 550 milhões. E fala também da intenção do governo de criar, a partir do novo aeroporto de Feira de Santana, uma das maiores redes de aviação regional do País. Tudo isso e muito mais você confere a seguir.
Como a Secretaria Estadual da Indústria, Comércio e Mineração vê o ano de 2011?
James Correia - Esse foi o ano em que nós consolidamos a reestruturação que foi feita na secretaria. Começamos em 2009, 2010 foi um ano ainda de amadurecimento e, em 2011, a estrutura de governo de um modo geral trabalhou com muito mais desenvoltura e isso permitiu que a gente aproveitasse bem a conjuntura. Por meio da formulação da nossa política industrial, a Bahia passou a olhar a economia em função das suas cadeias produtivas. Acho que esse foi o maior mérito do governo como um todo. A Agricultura tem suas câmaras setoriais, a Seplan tem essa visão também e aqui nós incorporamos isso, porque dentro da cadeia fica mais fácil mobilizar os parceiros. Por exemplo, é muito mais fácil mobilizar o Cofic por uma causa da área petroquímica do que por uma causa de energia. Hoje temos dez câmaras setoriais, por atividade econômica, e seis são câmaras transversais (como meio ambiente e energia). Isso se estruturou em 2010, mas começou a funcionar mesmo em 2011. Já chegamos a fazer reuniões, sobretudo na Câmara de Energia, com mais de 100 pessoas participando, com quase todas as empresas do segmento. Nessa avaliação eles diziam: olha, nós temos um problema com gás natural, etc. E pela primeira vez, eu acredito, um governador da Bahia pegou um avião e foi ao Rio discutir o sistema elétrico na Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para saber como está a situação hoje e o planejamento no futuro para que a gente não caia na armadilha de ter uma grande atração de empresas e não ter rede elétrica para suportar essas atividades. Temos também a câmara do setor calçadista, que reúne mais de 42 mil empregos. A Azaléia/Vulcabrás, que nós vamos falar mais adiante, tinha 80% dos empregos do setor na Bahia, hoje, tem cerca de 30%, o que não deixa de ser importante, mas o setor calçadista aproveitou esse momento de aumento do poder de compra no Brasil e da oferta de mão de obra baiana também, que é uma mão de obra de boa qualidade, e ainda tem um custo menor do que o Rio Grande do Sul ou o interior de São Paulo. Então só se pensa e se age aqui em função da maneira como estão funcionando essas cadeias produtivas.
O governo tem apontado, inclusive, essa organização como um diferencial na atração de investimentos.
J.C. – Para se ter um ideia, quando uma grande empresa vem à Bahia, ela se instala em uma sala aqui na secretaria e não sai daqui para ir atrás de informação nenhuma. Ela tem uma hora com a Secretaria de Meio Ambiente, um horário com a Embasa, um horário com a Coelba, etc. Ou seja, tem um atendimento onde ele vê muita coisa sobre a cadeia e temos uma visão dos problemas também. Geralmente, a solução vem com a atração de mais empresas daquele segmento, mais fornecedores. Em 2011, ganhamos uma superintendência nova, a de atração de investimentos, que é dirigida por Paulo Guimarães, que é uma pessoa que trabalhou no Polo Petroquímico, fez doutorado na Inglaterra e viaja com o governador em todas as missões internacionais e está à frente desse processo aqui na secretaria.
Vamos falar, então, do caso da Azaléia/Vulcabrás?
J.C. – O caso da Azaléia é muito grave porque o principal produto dela é o tênis Olimpikus, o único de fabricação própria no Brasil e sofre muito com a importação desleal. A primeira leva de demissões foi por causa disso e a segunda, agora, com o fechamento das fábricas, não diria que foi por causa disso, mas reflexo disso.
O senhor não sabia que isso iria acontecer?
J.C. – Não sabia que ia acontecer o fechamento de fábricas, mas sabia que a situação da Azaléia é grave. Ela fechou em 2010 com quase R$ 700 milhões em prejuízo. Nosso pessoal da câmara setorial de calçados pegou o balanço da empresa e me disse que em 2011 podem fechar com R$ 1 bilhão de prejuízos. Se você soma essas faturas, dá quase R$ 2 bi, então, acumular esse prejuízo é difícil, tem que fechar fábrica para reduzir custo operacional, sobretudo nas mais distantes e tentar produzir tudo em uma fábrica. Mas, se por um lado, eles apresentam essa dificuldade, por outro, eu estou conversando com o governador alternativas para resolver o problema das demissões. E eu acho que a nível de emprego vamos muito bem e, a nível de mercado, as empresas estão vindo para cá por causa disso.
O senhor pode explicar a redução dos empregos gerados na Bahia no mês de novembro/2011 divulgada pelo Caged? O Estado ficou em terceiro lugar no Nordeste, atrás de Pernambuco e do Ceará e, na comparação com o mesmo período de 2010, apresentou uma retração de 70%. E no acumulado de 2011, a Bahia ficou em segundo lugar, atrás de Pernambuco.
J.C. – Lógico que não é o que nós desejávamos. Isso é uma fotografia do que está acontecendo no Brasil. Nós representamos 70% das exportações do Nordeste, então, o efeito de qualquer crise internacional se dá na Bahia com uma dimensão muito maior do que nos outros estados. Essa é uma das explicações. A outra explicação que eu vejo é que estamos com problemas na área da construção civil, no Programa Minha Casa, Minha Vida. Temos um problema de negociação com a Caixa Econômica e temos 3.500 trabalhadores com aviso prévio. Quando isso acontece, já se registra no Caged essa perspectiva. Então, nós temos algumas dificuldades e o governador tem se empenhado em resolver esses problemas sazonais, mas vamos superar isso rapidamente porque a economia da Bahia é muito mais dinâmica do que as outras do Nordeste, é muito mais diversificada. Não são dificuldades estruturais. Há estados que, em virtude da safra de cana, começam a contratar muito em outubro, novembro, como é o caso de Pernambuco. Aqui não temos isso. Em 2010, passamos mais de seis meses sendo responsáveis por mais de 90% dos empregos gerados no Nordeste, quando a economia estava demandando, as exportações estavam bem, a construção civil e o comércio, que na Bahia é quem está se dando melhor. Nossa maior dificuldade hoje ainda é mão de obra, sobretudo para a mineração. As empresas estão trazendo todo mundo de outros estados – principalmente do Pará e de Minas – porque não encontram pessoal de nível médio para o operacional. E o emprego está cada vez mais distribuído fora da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Você tem essa realidade nos próprios números do Caged e a perspectiva é que mais de 50% dos empregos sejam gerados fora da RMS. Então, existe uma demanda por mão de obra muito grande, principalmente para mineração, energia e construção civil. Para se ter uma idéia, a Chesf tem 31 obras na Bahia, mas 29 estão atrasadas, todas por problemas de negociação ou renegociação de preços com as empresas prestadoras de serviços.
Quais são as atividades que estão demandando mais mão de obra no interior?
J.C. – A mineração, que tem R$ 15 bilhões em investimentos no Estado e que estão concentrados ao longo da Ferrovia Oeste-Leste, mas temos também os projetos Santaluz (de exploração de ouro pela canadense Yamana Gold no município de Santa Luz) e o tálio (em Barreiras), que estão fora desse eixo. O próprio Olacyr de Moraes esteve com o governador recentemente explicando que o tálio é um minério muito raro, utilizado pela indústria eletro-eletrônica, que só existia até hoje na China e tem um valor de mercado muito importante. Em energia, são R$ 14,4 bilhões em investimentos, principalmente com energia eólica e as termoelétricas a gás (em Eunápolis e Barra do Rocha). São investimentos que já estão em curso. As eólicas levam de 2,5 anos a três anos para operação. Uma térmica será instalada entre Barra do Rocha e Ipiau, no cruzamento do gasoduto da Gasene, e estamos colocando ela aí porque é onde queremos que seja o grande distrito industrial da Bahia no futuro. Investimentos em petróleo e biocombustíveis também são no interior, principalmente biocombustíveis e poços que estão sendo reativados e investimentos na refinaria. Alimentos e bebidas são todos no interior, em Alagoinhas, Itabuna, Juazeiro, investimentos grandes. Tem um que nós vamos anunciar na segunda quinzena de janeiro que será um dos maiores do Brasil na área de bebidas, de sucos. Feita também acabamos de assinar um cheque – quem assina cheque é o governador e o secretário da Fazenda (risos) –de R$ 6 milhões para desapropriar uma grande área onde vamos instalar cerca de seis indústrias em Feira de Santana. Uma delas de pás e aerogeradores e que irá empregar 800 pessoas, será a primeira do estado, nessa ideia de olhar a cadeia de energia eólica, porque já temos fábricas de postes, etc. E em Feira de Santana, hoje, o grande problema é área. Tivemos uma reunião com o grupo que comprou todas as operações da Sadia depois da fusão e vão entrar pesado com um investimento na região de Feira que possui avícolas. A Trifil quadruplicou sua fábrica em Itabuna porque o mercado está demandando, a Pepsico já inaugurou e está ampliando lá em Feira. Tem uma dinâmica da economia em Vitória da Conquista que é uma coisa impressionante: tem dois vôos por dia para São Paulo, dois para Belo Horizonte e quatro para Salvador, quando estiver com o aeroporto novo, então…
Em entrevista recente ao Gente & Mercado, o prefeito de Vitória da Conquista, Guilherme Menezes (PT), disse que o abastecimento de água é um fator limitante para a instalação de investimentos de grande porte no município. Tem algum grande investimento previsto para lá?
J.C. – Está sendo construída uma barragem, a do Rio Pardo, que irá garantir esses empreendimentos e os recursos já estão assegurados. Conquista cresceu muito. Visitamos lá fábricas de componentes de aço, portas de correr que não existem na Região Metropolitana de Salvador, fábricas novas que estão sendo ampliadas.
Essas duas fábricas de bebidas que você falou estão indo para onde?
J.C. – Estamos vendo ainda. Feira é sempre um destino importante, Conquista e Juazeiro também. Esta última já tem vários investimentos nessa área.
De quanto é o investimento?
J.C. – As duas juntas, na primeira etapa, em torno de R$ 550 milhões, R$ 600 milhões. É muito dinheiro para o interior. Quando você faz um investimento como calçado com R$ 10 milhões você gera três mil empregos. Com os mesmos R$ 10 milhões no setor petroquímico você gera dez empregos. Então depende muito do perfil da atividade. Esse investimento nas cadeias produtivas vai fazer com que a Bahia, no futuro, seja um grande produtor mineral – estamos realmente numa situação muito confortável porque temos o maior número de pesquisas em curso no Brasil, mais do que Minas e o Pará e só acha minério quem pesquisa, a regra é essa -, estamos com energia crescendo cada vez mais e vamos surpreender o Brasil e o mundo com a energia eólica – temos os melhores ventos, os melhores projetos e mais de uma Itaipu e meia aqui já registrada no governo para receber investimento e se a gente conseguir fazer metade teremos cerca de R$ 50 bilhões em investimentos.
Quantos megawatts da Bahia já foram leiloados?
J.C. – Cerca de 1200 megawatts, aproximadamente, e no próximo leilão, em março de 2012, participaremos com três mil megawatts mais ou menos, seremos o maior “player”. Começamos depois dos outros estados a preparar os projetos e licenciamentos e quando chegarmos agora nos próximos leilões nosso espaço tende a ser maior do que o dos nossos concorrentes. Começa a ficar uma coisa muito importante para o setor elétrico e para a Bahia.
E isso distribuído pelo interior.
J.C. -Exatamente, gerando renda com arrendamento de área, contratação de pessoal, tudo o que você precisa para fazer um projeto desses. Então, se você olha para a Bahia no futuro verá, de imediato, mineração, energia e petroquímica. O Cofic entregou um documento que fala o seguinte: ao chegar em 2014, nos oito anos do governo Wagner, teremos US$ 11 bilhões de investimentos no Polo, a mesma quantia que foi investida há trinta anos na sua implantação. O governo destravou investimentos no Polo com a negociação dos créditos do ICMS. Quando o governador chegou, negociou essas pendências que já tinham 12 anos, o que deu muita confiança não só para os empresários do setor petroquímico, mas dos outros setores. Foi feito um acordo muito inteligente, que depois se estendeu para o setor de papel e celulose, que também estava com compromissos assumidos no passado por governos anteriores que não foram honrados. Então, depois que se destravou isso, houve uma mudança significativa na relação com a classe empresarial. Uma empresa como a Braskem tirou do seu balanço, por exemplo, um crédito podre de 100, que de repente passa a ser um crédito real de 200, então o balanço tem um resultado muito positivo. Coincidentemente, depois desse acordo, ela fez um acordo com a Petrobras e fez as aquisições todas. Então, essa é uma questão simbólica da relação com a classe empresarial, que confia no governo. Houve aqui uma indústria grande que fez um pedido e o governador disse que tinha que negociar com o governo federal. Mas a industria disse “serve a sua palavra, governador”. Eu acho que esse tipo de relação com a classe empresarial é muito positiva. O governador foi o grande coordenador desse processo e deu como diretrizes a descentralização do desenvolvimento – me desculpem Caetano e o prefeito de Salvador, mas essa é a orientação do governador -, reestruturamos todos os nichos industriais, reestruturamos as empresas que atuam no interior – o Ibametro, a própria CBPM -; cuidar da micro e da pequena empresa, montamos o fórum que está funcionando muito bem, hoje é um dos melhores do Brasil; montamos uma estratégia para atrair investimentos com as câmaras setoriais para fazer com que os agentes que estão lá também atraiam – nosso maior parceiro para atrair investimentos para o setor petroquímico é a Braskem, afinal, quem conhece mais as empresas do setor do que eles? -; e um dado que ainda não saiu na imprensa é que o governador conversou, só em 2011, com mais de dois mil empresários, tanto brasileiros como estrangeiros, aqui e nas missões ao exterior que ele fez – só na Itália ele foi duas vezes, a Enel, maior empresa da Itália está aqui investindo em eólica; na China esteve duas vezes, foi na Alemanha, Portugal…
Saiu na Exame uma notícia de que o secretário da indústria do Rio estaria negociando a instalação de quatro montadoras por lá: a BMW, a Volkswagen – que disse que ia para Pernambuco, mas ainda não se sabe -, outra européia e a JAC Motors. O senhor está sabendo dessa notícia?
J.C. – O Rio de Janeiro é um Estado muito forte, tem muito dinheiro e quando ele entra na guerra fiscal é, realmente, imbatível. Lógico que o dinheiro só existe lá porque o petróleo saiu daqui para construir o que existe lá, mas essa é uma discussão complicada. Acho que a JAC Motors está definida, não tem essa possibilidade de dar para trás. O nível de trabalho aqui é muito alto, a ideia que eles tinham é de começar a fábrica em março de 2012. O que eu acho é que o governo federal vai ter que intervir nessa disputa.
Qual a estratégia do governo da Bahia na guerra fiscal?
J.C. – A guerra fiscal está no seguinte pé: ela tem um viés muito ruim, que é estimular as importações, que não geram emprego nenhum no Brasil. Três estados praticam a guerra fiscal: Pernambuco, Espírito Santo e Santa Catarina. Já foi feito um acordo para se reduzir as alíquotas estaduais para importados, o que vai praticamente anular as vantagens que qualquer estado venha a oferecer. O ideal é que fosse alíquota zero, mas vai ficar em torno de 2% para poder ficar ainda alguma possibilidade de ganho nesses estados que montaram estrutura para isso. A outra guerra é aquela em que os estados entre si disputam uma empresa por meio de seus programas de incentivo fiscal, quase todos seguem uma linha de desonerar o ICMS futuro, ou seja, quando aquela empresa for pagar ICMS ela tem um prazo durante o qual teria um desconto de 70%, 80%, 90%, até 99%. O setor de calçados mesmo, como é tão intensivo de mão de obra – e para a gente o que interessa é o emprego e o que ele gera na economia – ele tem um incentivo alto, aqui chega a 99% em dez, 12 anos. Mas o que acontece é que estados que não praticavam a guerra fiscal, começaram a praticar e o Rio de Janeiro é um deles. E o Rio de Janeiro, além de dar esse benefício futuro, eles dão uma série de benefícios do caixa do Tesouro, é isso o que a Bahia não faz. Nós não podemos pegar o dinheiro da saúde, educação, etc, e aplicar nessa política de atrair investimentos. O Rio de Janeiro vai lá e fala: eu te dou o terreno, preparo o terreno, construo parte da planta para você, mas isso é dinheiro que se está gastando hoje, que tem que ser tirado do caixa para fazer. Essa é a dificuldade de competir com o Rio ou com São Paulo, mas São Paulo não faz isso.
Qual seria o objetivo do secretário do Rio afirmar, então, que está negociando com a JAC Motors?
J.C. – Ele pode negociar e até levar para lá uma fabrica de foguetes da Nasa. Ele está no direito dele. Agora, não existe hoje, no Nordeste, a possibilidade da gente continuar atraindo grandes empresas se não for feita uma política de desenvolvimento regional como o próprio Confaz estava negociando, que é ter um fundo para cobrir os estados para não perderem receita, para que os estados do Nordeste possam ter alguma compensação para atrair empresas, porque senão elas vão para o Rio, Minas, São Paulo. Não terá nenhum efeito uma decisão para acabar com a guerra fiscal que não leve isso em conta. Por isso o governador Jaques Wagner e o governador Eduardo Campos assinaram juntos um documento pedindo isso e foram entregar a presidente Dilma Rousseff. Nesse pleito estava que as empresas possam cobrir seus custos de logística, de distância do mercado maior para realizar suas atividades.
Qual sua opinião em relação ao Porto Sul, que a Votorantim já manifestou interesse em assumir por completo a obra e explorá-lo? O senhor é favorável à concessão ou à SPE (Sociedade de Participação Especial)?
J.C. – Acho que o governador pensa em fazer um projeto que fique pronto junto com a Ferrovia Oeste Leste. Não adianta ter o melhor projeto do mundo se ele só ficar pronto daqui a dez anos. Esse projeto não serve para a Bahia. Temos que ter um projeto que fique pronto em 2014, seja concessão ou SPE. O problema da concessão é que está sendo discutido na Casa Civil uma reestruturação, uma forma de licitação e, depois disso, deve ser discutido com os parlamentares, então é um processo que pode ser uma boa solução para o próximo porto que se vá fazer na Bahia, mas não do Porto Sul. É isso que está sendo discutido. O governador já conversou com a presidente Dilma, já esteve na Secretaria Especial dos Portos (SEP), no dia do evento da Ford, veio aqui uma pessoa da SEP e me explicou como é que está o andamento desse trabalho e temos uma facilidade que a ex-secretária Eva Chiavon está lá em Brasília e era quem coordenava o Porto Sul e tem acompanhado com atenção essa discussão lá e reportado aqui para o governador. Eu também sou favorável a uma solução que consiga equalizar esses dois cronogramas. Senão corremos o risco da Bamin fazer o projeto deles, concluir e a gente ficar aqui esperando recursos e se formos depender de recursos públicos para fazer esse porto, ele não sairá. Sendo bem pragmático, eu não acredito nisso. Não conseguimos fazer investimentos no Porto de Salvador, em Aratu. É o único Estado que não consegue captar dinheiro do PAC porque não apresenta projetos, apesar de ter dinheiro em caixa, não consegue…
Essas críticas são para a Secretaria Estadual de Portos?
J.C. – Não, são para a Codeba, que tem que pegar esse dinheiro, fazer projetos, apresentar e fazer as obras. Foi feita uma dragagem no Porto de Salvador que está lá há quanto tempo? Até hoje o canal não está homologado e os navios não podem encostar. Então, acho que essas coisas que são muito mais simples a gente não consegue fazer, que é melhorar os portos que a gente já tem, quanto mais fazer um porto novo. Acho o Porto Sul importantíssimo, muda a cara da economia baiana, muda inclusive pelos números: hoje movimentamos 35 milhões de toneladas de cargas na Bahia, Pernambuco tem dez. As pessoas falam de Pernambuco, mas eles têm dez, temos mais que o triplo. Nós exportamos 70% dos produtos do Nordeste, Pernambuco exporta menos de 15% e com o Porto Sul a Bahia vai ampliar sua participação no Nordeste. E deve passar de 35 milhões de toneladas para 100 milhões de toneladas, sendo o terceiro maior estado em movimentação de carga. O Porto Sul vai começar com 44, 45 milhões de toneladas, no segundo ano já passa para 60. Vamos ter uma realidade no Estado completamente diferente do que a gente tem hoje. Acho que ainda não caiu a ficha do que vai acontecer na Bahia. Talvez por isso, haja grande oposição de empresas do setor portuário dos portos de Santos e de Vitória ao Porto Sul, que vai ser um grande concorrente e vai ser uma alternativa para as cargas de grande porte do nosso Estado. E temos um porto privado sendo construído dentro da Baía de Aratu, muito maior até do que o Porto de Aratu, que está sendo feito pela Dow Química juntamente com a UTC, então estão sendo criadas aternativas.
A Codeba já autorizou as operações?
J.C. -A área é do governo do Estado, nisso ela não se mete. Mas as operações, ainda não. Isso nós vamos discutir com o governo federal. A Codeba precisa cuidar do que ela já tem. De qualquer forma, estamos vivendo um momento em que a logística está melhorando, as estradas estão melhorando, os portos têm toda uma mobilização de que vamos ter uma estrutura muito boa, o governo tem uma estratégia, que tenho ajudado a discutir junto à Seinfra, de criar uma das maiores redes de aviação regional do Brasil. O aeroporto de Feira de Santana deverá ter a estrutura que tem Viracopos no interior de São Paulo, deverá concentrar várias linhas regionais para o interior todo, para outros estados. Além disso, Conquista e Barreiras terão aeroportos novos. A ideia é fazer com que o empresariado e a população de um modo geral não precise se deslocar de carro e nesse mundo moderno, não tem como. Você vai hoje para uma reunião em Conquista e volta de avião. Se fosse de carro, não conseguiria fazer isso.
O senhor disse para a coluna Gente & Mercado, da Tribuna da Bahia, que a Bahia deve se consolidar como o grande destino dos investimentos da China no Brasil. Quais são os negócios previstos para vir para cá?
J.C. – Nós já somos o primeiro Estado do Brasil em investimentos chineses de US$ 3 bilhões com o Gasene, que é um investimento chinês para atender ao longo do tempo pagamentos da Petrobras. De lá para cá, a maior empresa de equipamentos petrolíferos do mundo, que se chama Bonko, já se instalou na Bahia, é a Bonkobras. Aí tem o investimento no agronegócio…
Mas esses já foram feitos, o que é que tem de novo?
J.C. – A JAC é chinesa. E temos uma possibilidade concreta com a Dongfeng, maior fábrica de caminhões da China , que pode vir aqui para a Bahia. Em breve teremos uma posição.
Para onde iria essa fábrica? Camaçari também?
J.C. – Eu brinco com meu amigo Carlos Martins que agora nós vamos levar uma grande fábrica para Candeias, mas o governador quer levar uma grande fábrica de automóveis para Feira. Ele acha que Feira tem condições de atender mão de obra, tudo.
Só não falamos do comércio…
J.C. – Acho que o comércio na Bahia vai muito bem. Salvador se dá ao luxo de inaugurar um shopping por ano. Acho que precisamos ter uma atuação maior junto aos pequenos e médios comerciantes, onde há uma grande geração de empregos e estamos concluindo agora em janeiro a política de comércio do Estado da Bahia em parceria com os empresários e com o apoio da Ufba para orientar nossa atuação tanto com o pequeno quanto com o grande negócio. E assinamos um convênio com o Sebrae no valor de R$ 4 milhões para estudar a inserção do pequeno e médio comércio nos grandes empreendimentos. Precisamos resolver algumas pendências ainda na parte atacadista, temos um regime que não é muito competitivo se comparado com outros estados, mas estamos conseguindo avançar na velocidade que é possível e, de um modo geral, o comércio está dando um resultado impressionante, tem sido o carro-chefe da nossa política de geração de empregos e a Secretaria da Fazenda – que sempre é a vilã da história – tem ajudado muito. Em todos os eventos de Natal, por exemplo, tiveram parcelamento de crédito de ICMS. Isso é uma injeção na veia do empresário que tem dificuldade de capital de giro e, às vezes, também recebe parcelado, então tem um fôlego. Na Liquida Salvador a gente também faz a mesma coisa, ajuda no patrocínio, na divulgação e no interior do Estado inteiro tem sido assim. Quando nós chegamos, só existia a superintendência de comércio no papel. Com a vinda do Adhvan Novais Furtado para cá, para se dedicar exclusivamente a isso, tivemos uma série de avanços e temos um plano para seguir, que depende logicamente da nossa capacidade de gerar receita, mas se criou uma situação hoje invejável. Quando se chegou a estrutura estava precarizada. Hoje, para se ter uma idéia, só na CBPM temos R$ 25 milhões em caixa. A Ibametro comprou 36 veículos e tem R$ 5,5 milhões em caixa, a Sudic tem R$ 10 milhões em caixa. A Promo tinha um débito tributário muito grande, mas houve um avanço que facilita muito a gestão. A própria Ebal teve avanços incríveis de resultado. Imagine uma empresa pública que atua no ramo comercial e que seu gerente tem o Ministério Público do Trabalho com várias ações, que quer obrigar a gente até a contratar o gerente comercial da loja. Com todas essas dificuldades, foi possível a Ebal se reestruturar e isso tudo fez com que a secretaria avançasse.
O senhor e o governador dão sempre a entender em entrevistas que há uma outra montadora vindo. De onde seria essa montadora?
J.C. – O governador visitou algumas indústrias quando foi agora à China, a convite das indústrias e o setor automotivo foi o principal foco, ele quer trazer mais empresas e se só os chineses querem vir, ótimo. Temos um escritório da Bahia na China dentro da Anpex, temos uma atuação em São Paulo com alguns parceiros, estamos negociando com outras indústrias importantes, tanto do setor automotivo quanto de outros segmentos e espero que a gente consiga ter bons resultados, aproveitando o bom momento que o Nordeste e o Brasil estão vivendo. Não fizemos nada demais aqui na secretaria, só organizamos o time, eu sou o capitão, mas o governador é o treinador. Eu gostaria de ter um escritório em São Paulo, é o meu sonho – pode colocar aí na matéria -, não consegui ainda por problemas orçamentários, mas quero ter duas pessoas lá da nossa secretaria, quero ampliar minha participação em Brasília, quero ter três ou quatro pessoas lá acompanhando tudo, porque lá se decide muita coisa, mas são coisas que muitas vezes esbarram na questão de orçamento.

Fonte; Gente & Mercado

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