Governo capacita população de Salvador e do Recôncavo para o turismo étnico-afro
As estratégias para o envolvimento das comunidades afrodescendentes na produção de atividades associadas ao turismo estão sendo discutidas, durante a última etapa do ciclo de seminários regionais sobre o turismo étnico-afro da Bahia. O evento está sendo realizado no Anfiteatro Professor Alfredo Thomé de Brito, na Faculdade de Medicina, no Centro Histórico de Salvador, e tem como proposta identificar demandas, dificuldades e entraves, apontando alternativas e socializando ações e experiências exitosas.
Um exemplo dessas iniciativas que estão dando certo e que devem ser divulgadas é a Cooperativa Kitanda Bantu, que trabalha o empreendedorismo dentro das comunidades de terreiro. “Orientamos as pessoas para que possam usufruir da sua própria cultura, da sua ancestralidade, preservando conhecimentos, como o aproveitamento dos tecidos e a fabricação de velas”, disse a artesã Marizete Bispo, 39 anos, há quatro na cooperativa.
Ela afirmou que fazem parte da entidade 45 terreiros, que produzem e comercializam entre si. “A grande proposta é fazer uma rede de economia solidária para que nós, irmãos de santo, possamos consumir nossos próprios produtos. Se um terreiro produz velas, outro produz roupas, um terceiro produz as contas, podemos comprar uns dos outros e formar essa economia solidária”, explicou Marizete.
O capoeirista Gilvan Carlos Santana, conhecido como ‘Professor Senzala’, está acostumado a ensinar sua arte para pessoas com diversos sotaques. “Os turistas vêm em busca do conhecimento, porque a capoeira começou aqui, com os mestres. Estou no seminário para saber o que o governo tem para oferecer para os grupos e associações comunitárias”. Ele contou que vive na prática a falta que faz uma capacitação para o empreendedorismo. “Vejo muitos projetos sendo rejeitados e a gente não sabe o porquê”.
Para a diretora do Centro de Culturas Populares e Identitárias da Secretaria Estadual de Cultura (Secult), Arany Santana, sem cultura não há turismo. “O governo está buscando reconhecer na cultura africana a saída para a nossa população. Essa cultura já foi marginalizada e hoje é uma das saídas para o nosso povo, através da geração de emprego e renda, que vai tirar grande parte da população da miséria”.O turismo, responsável por até 8% do PIB nacional, gera oito em cada dez empregos nas regiões onde a atividade é desenvolvida. Segundo a superintendente estadual dos Serviços Turísticos, Cássia Magalhães, o turismo étnico é uma inovação do governo do Bahia, que agora vai oferecer um curso de qualificação. Serão nove turmas nas cidades de Salvador, onde 80% da população são de afrodescendentes, Santo Amaro, Cachoeira, São Francisco do Conde e Maragojipe, onde a cultura africana também é predominante.
Empreendedorismo
A capacitação vai focar principalmente o empreendedorismo dentro do turismo étnico-afro. Serão capacitadas 1,2 mil pessoas com 200 horas/aula em cada curso. Além do empreendedorismo, serão ministradas aulas para as ocupações de garçom, camareira e outras atividades.Para a elaboração do projeto, de acordo com Cássia, foi realizado um diagnóstico nos principais destinos turísticos do Recôncavo e, a partir desse estudo, foi montado o seminário. “As manifestações culturais da região, como a Festa da Boa Morte, em Cachoeira, atraem um número muito grande de turistas, dando oportunidade para que as pessoas da terra se integrem e trabalhem na economia do turismo”.
Fonte: Tribuna da Bahia
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