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Geógrafo pela Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC,Ilhéus/Itabuna; Urbanista pela Universidade do Estado da Bahia, UNEB, Campus Salvador; Especialista em Metodologia para o Ensino Superior, pela Fundação Visconde de Cayru; pós-graduando em Ecologia e Intervenções Ambientais pelo Centro Universitário Jorge Amado, UNIJORGE.

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Turismo - problemas na costa das baleias

Paraíso está ameaçado

Conflitos fundiários, ambientais e políticos travam o desenvolvimento da região da Costa das Baleias, ainda um paraíso natural no extremo sul da Bahia. São, em suma, disputas por terra e recursos naturais, que expõem interesses econômicos divergentes e falta de entendimento entre órgãos públicos.


Quem renova a história de conflitos na terra do descobrimento do Brasil são produtores rurais, assentados da reforma agrária, índios, políticos, servidores públicos, empresários locais e estrangeiros. Em um cenário de 200 km de praias, rios e mangues e que tem na privilegiada observação de baleias jubarte sua principal atração turística.


Na entrada de Prado, município de 27 mil habitantes e polo da rota turística, o Palácio do Turismo está cercado por tapumes. A obra de R$ 1 milhão, que deveria reunir auditório, informações e comércio na antiga sede da prefeitura, deveria estar pronta no final de 2010, mas pouco avançou. O município diz que a União só liberou a primeira parcela – R$ 200 mil – dos recursos. Indício das dificuldades do turismo na cidade, que reúne 100 mil pessoas no verão e ainda busca alternativas para a baixa temporada.


Os lucros do turismo também parecem não alcançar a maior parte da população. “Em Prado, ou você é servidor público ou pescador, porque boa parte do comércio é familiar e emprega pouco”, diz o promotor de Justiça Wallace Carvalho. O avanço da cultura do eucalipto na região desde os anos 80, incentivado pelo regime militar, reduziu o emprego rural e deslocou populações empobrecidas para áreas urbanas.


Empresários europeus mantêm negócios - terras, hotéis, condomínios, restaurantes - e são atores políticos importantes em Prado. “Falta integrar a população local ao desenvolvimento”, diz, em português carregado de sotaque, o italiano Carlo Casarsa, 59 anos, secretário de Turismo do prefeito Jonga Amaral (PCdoB) e jornalista esportivo conhecido em seu País – é amigo de jogadores brasileiros que passaram por lá, como Zico e Amoroso. 


Em 1990, chegou a organizar em Udine, sua cidade natal, um amistoso entre a Seleção Brasileira e um combinado do resto do mundo. Atuou em campanhas políticas na Itália - como para o primeiro-ministro Silvio Berlusconi - e mantém um hotel-restaurante na cidade.


Há 20 anos na região e já com “baianês” no sotaque, o também italiano Enrico Pelletti, 50 anos, articulou prefeitos e reuniu-se com funcionários do Ministério do Turismo no lobby pela reforma do aeroporto de Caravelas, cidade vizinha a Prado. A obra, iniciada neste ano, é a principal demanda e aposta de redenção para o trade turístico local.


Pelletti chegou a Prado em 1991. Hoje é dono de condomínio de 500 hectares, restaurante e barracas de praia pela cidade. Preside uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) de promoção do turismo na Costa das Baleias e fala com desânimo da política local. 


“Faltam hotéis de grande porte”, lamenta. O empresário, que dirige uma BMW Motorsport de R$ 580 mil, diz ter fechado recentemente a venda de 69 hectares em Prado, com 1,6 quilômetros de praias, a dois grupos europeus – um ítalo-inglês e outro ítalo-luxemburguês. Os nomes não revela, diz, por sigilo contratual.


Problemas que Pelletti e Casarsa mantiveram com órgãos ambientais federais sugerem uma relação difícil com essas autarquias. O secretário foi multado em R$ 1.500 pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) por ter levado sem autorização uma equipe de TV ao Parque Nacional do Monte Pascoal, em Porto Seguro. 


O condomínio de Pelletti soma multas ambientais e o empresário chegou a responder processo – e foi absolvido – pela acusação de ameaça de morte a um funcionário do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).

Abrolhos sob disputa

O conflito ambiental que mais repercute hoje na Costa das Baleias se desenrola justamente no berço das jubartes. Dá-se em Caravelas, cidade vizinha a Prado e entrada do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, refúgio das baleias jubarte que dão nome ao trecho da costa. Uma proibição de exploração de petróleo e gás no entorno do parque, uma das áreas de maior biodiversidade marinha do planeta, foi derrubada pela Justiça Federal no final de 2010. Moradores comentam que empresas com blocos de exploração na região já recrutam para o trabalho.Ambientalistas que vivem em Caravelas reconhecem que a promessa de empregos do petróleo atrai a população local. Mas insistem na afirmação de que a atividade colocará a área protegida sob risco – o Greenpeace, por exemplo, está em campanha pela “moratória” da exploração de petróleo na região.


A visitação em Abrolhos, que girava em torno de 15 mil pessoas no final dos anos 90, hoje está em 5.000 pessoas por ano. Das cinco empresas que operavam o passeio até o parque nacional, hoje apenas duas estão na ativa. O fechamento do aeroporto de Caravelas, em 2007, por falta de segurança, reforçou as dificuldades econômicas do destino. “As embarcações menores faliram, e falta ação municipal. O píer de Caravelas não tem luz e à noite vira ponto para uso de crack”, diz Eduardo Camargo, gerente da ONG Conservação Internacional.O único consensoApesar da variedade de problemas e interesses econômicos na área - que incluem investimentos em grandes fazendas, incentivos ao plantio de eucalipto, especulação imobiliária e turismo -, todos convergem quando o assunto são as belezas naturais e o potencial turístico da Costa das Baleias. 


Resta definir os rumos do desenvolvimento, como aponta Oliveira, do ICMBio. “Descobriu-se o Brasil por aqui e a região ficou esquecida. É preciso que seja redescoberta novamente”, afirma.
Fonte: Tribuna da Bahia

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